domingo, 2 de dezembro de 2007

Empresas Júnior

Em Junho de 1999, vinte e nove Estados Europeus, entre os quais Portugal, subscreveram a Declaração de Bolonha, cujo objectivo central é “o estabelecimento até 2010 dum Espaço Europeu de Ensino Superior, coerente, compatível, competitivo e atractivo para estudantes europeus e de países terceiros, espaço que promova a coesão Europeia através do conhecimento, da mobilidade e da empregabilidade dos diplomados, forma de assegurar um melhor desempenho afirmativo da Europa no Mundo".

Esta Declaração deu origem a um movimento europeu com importantes repercussões a nível social, cultural e económico, designado por Processo de Bolonha. Neste momento, já quarenta e cinco países subscreveram a Declaração, unindo-se no objectivo de tornar a Europa numa sociedade de conhecimento, dinâmica e competitiva, baseada na elevada qualificação dos recursos humanos, na crescente qualidade do emprego e no acesso generalizado à informação.

É neste contexto que, no início de 2006, a Comissão Europeia entregou aos seus estados-membro uma lista de recomendações que procuram estimular o espírito empresarial junto dos jovens europeus, desde o primeiro ciclo do ensino básico até à universidade, encorajando-os, nomeadamente, a criarem empresas júnior prestadoras de serviços.

A Comissão, admitindo que a competitividade e o crescimento económico dependem largamente da vontade de promover a criação de empresas, recomenda, entre outras medidas, a cooperação entre os estabelecimentos de ensino e o tecido empresarial e a criação de empresas desenvolvidas por estudantes.

Segundo Jan Figel, comissário europeu da Educação, "o espírito empresarial é a competência que um indivíduo tem de passar de uma ideia à acção. Isso inclui ter iniciativa, ser responsável e aceitar os riscos inerentes para concretizar os seus objectivos pessoais. Precisamos de assegurar que todos os jovens têm acesso aos meios para desenvolver as suas competências e capacidades durante a sua educação e formação".

Na mesma linha de pensamento, o comissário europeu para as empresas, Günther Verheugen, afirmou que “devemos adoptar uma linha de conduta sistemática no que se refere à formação empresarial, desde a escola primária até à universidade”.

Esta preocupação da Comissão enquadra-se nas mudanças a efectuar pelo sistema educativo depois do Processo de Bolonha, no sentido da eliminação do modelo do “aluno-copista”, obcecado no registo de todas as palavras proferidas pelo professor e na ingurgitação do conteúdo das aulas e dos manuais, sem que adopte uma posição crítica e pró-activa.

Se o mercado de trabalho procura jovens com capacidade de iniciativa e de inovação, que saibam trabalhar em equipa e em contextos multifacetados, o sistema educativo deve potenciar a criatividade natural dos alunos, enquanto os orienta para a operacionalidade dos conhecimentos e promove o espírito crítico e o raciocínio rigoroso, tão necessários ao desenvolvimento da sociedade do conhecimento.

Felizmente, até neste aspecto a Universidade do Porto se revela como a melhor e maior universidade do país, estimulando o empreendedorismo dos seus alunos em múltiplos projectos, incluindo a criação das júnior empresas, que permitem aos estudantes aplicarem os conhecimentos académicos em projectos reais e à academia contactar com o mundo empresarial.

Não foi por acaso que a Universidade do Porto foi a vencedora deste ano do Prémio Fomento do Empreendedorismo por apresentar, nas palavras de Marçal Grilo, um dos membros do júri do concurso, " um projecto baseado numa estratégia e numa realidade actual consistentes" que assenta "num modelo muito bem construído para atingir a progressiva generalização de práticas indutoras de empreendedorismo aos estudantes da Universidade".

Resta agora dinamizar este projecto inovador e torná-lo, com o apoio de toda a comunidade universitária, numa praxis tão natural como aprender...


Professor Nuno Moutinho

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